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Às vésperas da nova NR-1: por onde as empresas devem começar na gestão dos riscos psicossociais?

A contagem regressiva terminou. A partir de 26 de maio de 2025, entra efetivamente em vigor a nova redação da NR-1, que obriga as empresas brasileiras — de todos os portes e setores — a identificar, avaliar e gerenciar os riscos psicossociais no ambiente de trabalho.

Se, por um lado, a inclusão da saúde mental nas normas de segurança e saúde ocupacional representa um avanço, por outro, ela chega acompanhada de uma série de desafios práticos, jurídicos e operacionais. A maior crítica segue a mesma desde a publicação da Portaria nº 1.419/2024: o texto normativo é genérico, carece de parâmetros objetivos e deixa as empresas vulneráveis à insegurança jurídica.

A pergunta que paira sobre empresários, RHs, jurídicos e consultores de SST é simples, mas urgente:"O que, na prática, minha empresa precisa fazer para estar minimamente segura diante das novas exigências?"

Este artigo responde essa pergunta com um roteiro claro, direto e realista — baseado nos próprios documentos oficiais da NR-01 e nas melhores práticas de compliance trabalhista.


O que são riscos psicossociais e por que eles viraram prioridade legal?

A nova NR-1 define como riscos psicossociais todos os fatores que, presentes no ambiente de trabalho, podem afetar negativamente o bem-estar psicológico e social dos trabalhadores. Isso inclui, entre outros:



Pressão por metas inalcançáveis


Jornadas prolongadas


Ambientes tóxicos


Assédio moral e sexual


Sobrecarga de trabalho


Falta de apoio das lideranças


Conflitos interpessoais crônicos


Ausência de autonomia ou controle sobre tarefas



Se antes esses temas apareciam apenas de forma indireta na legislação, agora estão formalmente enquadrados como riscos ocupacionais, exigindo registro no Inventário de Riscos, no PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos) e no PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional).


Por onde começar? O roteiro prático para sua empresa

1. Diagnóstico organizacional imediato

O primeiro passo é abandonar qualquer abordagem intuitiva. O enfrentamento dos riscos psicossociais começa com dados, não com suposições.

✅ Levante informações como:



Índice de absenteísmo


Afastamentos por questões psicológicas (CID F) nos últimos 5 anos


Rotatividade (turnover) por setor


Histórico de reclamações internas ou processos trabalhistas por assédio, sobrecarga ou ambiente hostil


Resultados de pesquisas de clima (se existirem)



2. Mapeamento dos fatores de risco reais

Nem toda empresa enfrenta os mesmos riscos. É essencial entender onde estão os pontos críticos, como:



Setores com metas excessivas (vendas, operações)


Áreas com alta carga emocional (SAC, saúde, jurídico)


Turnos com jornadas longas ou noturnas


Locais com histórico de conflitos interpessoais ou liderança tóxica



Esse mapeamento precisa estar documentado e ser capaz de demonstrar, em caso de fiscalização, que a empresa não atua no escuro.

3. Criação de um Comitê de Gestão dos Riscos Psicossociais

O tema não pode ser delegado a uma única área. É necessário envolver:



RH


Jurídico


Segurança e Saúde Ocupacional (SST)


Lideranças operacionais


Representantes dos trabalhadores (onde for aplicável)



O comitê se torna responsável por acompanhar, discutir e aprovar as ações corretivas e preventivas.

4. Revisão dos canais de denúncia

A nova NR-1 exige que os riscos psicossociais sejam tratados dentro do sistema de gestão de riscos. Isso significa que seu canal de denúncia não pode mais ser genérico ou simbólico.

Ele deve garantir:



Sigilo absoluto


Proteção contra retaliações


Fluxo bem definido de apuração


Prazos claros para respostas



Sem isso, a empresa corre risco grave de responsabilização tanto administrativa quanto judicial.

5. Atualização dos documentos obrigatórios



Inventário de Riscos: agora deve incluir os psicossociais, com descrição dos fatores, avaliação dos riscos e medidas de controle.


PGR: precisa apresentar um plano de ação específico para esses riscos.


PCMSO: deve prever acompanhamento da saúde mental, não obrigando contratação de psicólogos, mas exigindo que haja suporte técnico especializado.



6. Capacitação de líderes — fator crítico de sucesso

A maior parte dos riscos psicossociais nasce ou se agrava pela atuação das lideranças. Portanto, capacitar gestores sobre:



Prevenção de assédio


Comunicação não violenta


Gestão de conflitos


Práticas saudáveis de cobrança de resultados



Deixar líderes sem treinamento é abrir espaço direto para passivos trabalhistas.

7. Desenvolvimento de ações concretas de promoção da saúde mental

Evite o erro clássico do “benefício de vitrine”. Só faz sentido oferecer apoio psicológico, flexibilização de jornada ou programas de bem-estar se essas ações estiverem integradas a uma política corporativa consistente, com acompanhamento e indicadores.


O custo da omissão

Empresas que ignorarem essas obrigações enfrentarão:



Autuações imediatas, pois os Auditores Fiscais do Trabalho estão treinados para fiscalizar esses itens a partir de julho.


Aumento de passivos trabalhistas, especialmente com ações por assédio, burnout e adoecimentos psíquicos.


Perdas reputacionais, já que o tema é altamente sensível para clientes, parceiros e a sociedade.


Multas administrativas, que podem variar de acordo com o porte e reincidência, além de interdições operacionais em casos extremos.




Conclusão: agir agora é sobrevivência empresarial

A nova NR-1 representa, sim, um desafio regulatório enorme — especialmente pela falta de clareza prática em diversos pontos. Mas ela também é uma oportunidade para que empresas maduras e responsáveis se destaquem no mercado, reduzam riscos e construam ambientes mais seguros e produtivos.

A escolha que se impõe é simples:

Fonte: Contábeis

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