Postagem Única da Notícia

Bom momento do cinema nacional impulsiona pequenas empresas do setor

O setor audiovisual brasileiro começou 2025 em clima de final de Copa do Mundo, com o país inteiro na comemoração de um feito inédito: a premiação de uma brasileira na categoria de Melhor Atriz no Globo de Ouro. A repercussão da vitória de Fernanda Torres por sua atuação em Ainda Estou Aqui, uma produção original Globoplay, impulsionou a bilheteria do filme, que já arrecadou mais de R$ 100 milhões, tornando-se a quinta maior da história do cinema nacional.

O reconhecimento internacional da produção se multiplicou. No início de fevereiro, conquistou o prêmio Goya 2025 de Melhor Filme Ibero-Americano e, até o fechamento desta edição, aguardava os resultados das indicações em três categorias do Oscar – Melhor Atriz, Melhor Filme e Melhor Filme Internacional. Exibido em mais de 20 países, também foi laureado em festivais no Canadá, na França e nos Estados Unidos.

Esse feito não só lotou as salas de exibição como renovou a esperança de que essa indústria, essencial para a economia criativa, ganhe novo fôlego para desenvolver seu potencial com mais equidade e inclusão. Relatório da Motion Picture Association (organização que representa os principais estúdios de cinema dos Estados Unidos e de outros países) em parceria com a consultoria global Oxford Economics, publicado em 2022 e com base em dados de 2019, revela que o setor movimenta R$ 56 bilhões no Brasil.

O mercado audiovisual concentra 11.342 pequenas e médias empresas e é impulsionado por novas tecnologias. Além disso, plataformas digitais e redes sociais têm transformado a forma como as pessoas consomem produções. “A demanda por conteúdo original e de alta qualidade continua a crescer”, diz Carolyne Gomes, coordenadora de Economia Criativa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio de Janeiro (Sebrae-RJ). Ela alerta os empreendedores do setor que, para se manterem competitivos, é essencial acompanhar as tendências e investir em qualidade, inovação e capacitação.

A vocação brasileira, aclamada mundialmente há décadas graças à exportação de telenovelas, parece redobrar sua potência no cenário atual. Um estudo encomendado pela Netflix à consultoria Deloitte estimou os impactos econômicos do setor audiovisual em quatro países da América Latina: Argentina, Brasil, Colômbia e México. Foram analisados três tipos – direto, indireto e induzido –, com base em dados de 2021 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e de órgãos de pesquisa, incluindo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O país obteve o segundo melhor desempenho. A análise avalia as interações de uma indústria com as demais áreas econômicas. O Brasil apresentou um multiplicador de 2,935, o que indica efeitos positivos significativos, embora ligeiramente inferiores aos da Argentina. “Para cada dólar gasto, o retorno total na economia é de US$ 1,60 a US$ 1,90”, explica Carolina Verginelli, sócia da consultoria Deloitte Brasil. “É um setor que não beneficia apenas grandes empresas: traz para a cadeia, por exemplo, a pessoa física que faz a montagem do cenário, e há um fomento à economia local, que contribui diretamente para o desenvolvimento regional.”

Desigualdades

São muitos os desafios do setor, entre eles a evidente necessidade de ampliar a participação feminina nas tomadas de decisão. “Não só no audiovisual, mas em outras áreas da cultura, ainda predominam homens na direção”, observa Kety Fernandes Nassar, coordenadora do Núcleo de Criação e Plataformas do Itaú Cultural.

Com o objetivo de superar desigualdades, chamadas de fomento à produção cultural nas esferas federal, estadual e municipal têm adotado métodos de seleção que garantem uma porcentagem para propostas de minorias de gênero e étnicas.

“Ainda não temos um setor em que a gente possa falar que existe equidade [entre gêneros]”, avalia Lyara Oliveira, presidente da Spcine (empresa pública vinculada à Secretaria de Cultura e Economia Criativa da cidade de São Paulo). Desde 2019, os editais da instituição adotam ações afirmativas para ampliar o incentivo às mulheres. “Em 2024, a participação feminina em cargo de direção nos projetos contemplados [pela instituição] beirou 45%, dentro de uma lógica nacional em que não passa de 30%”, pontua.

A regionalização da atividade é outro ponto de atenção. Segundo dados da Ancine, a Região Sudeste concentra mais da metade (7.054) dessas produtoras, enquanto Sul e Nordeste quase empatam, com 1.548 e 1.542 negócios, respectivamente. Estima-se que esse mercado gere 657 mil empregos (diretos, indiretos e induzidos) – veja outros dados do setor às págs. 42 e 43.

Nas próximas páginas, especialistas analisam as oportunidades e os desafios nas áreas de produção, distribuição/exibição e conteúdos para TV aberta, TV paga, vídeo por demanda e streaming. Além disso, seis empresárias compartilham suas conquistas e suas superações no mercado audiovisual.

Linha do Tempo

Histórico de fomento ao mercado audiovisual brasileiro

- 1991: Lei Rouanet, a primeira de incentivo à cultura
- 1993: Lei do Audiovisual, que cria mecanismo de fomento ao setor
- 2001: A Agência Nacional do Cinema (Ancine) é criada por Medida Provisória | Medida Provisória Cota de Tela, que determina que, no mínimo, 30% dos filmes exibidos sejam de produção nacional
- 2006: Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) torna-se uma categoria específica do Fundo Nacional da Cultura, destinado ao desenvolvimento da indústria audiovisual no Brasil
- 2020: Lei Aldir Blanc destina R$ 3 bilhões em recursos emergenciais a artistas, coletivos, espaços culturais e instituições que tiveram suas atividades impactadas
- 2021: Expira a Cota de Tela, que tinha prazo de 20 anos
- 2022: Lei Paulo Gustavo, o maior investimento direto já realizado no setor cultural do Brasil (R$ 3,862 bilhões)
- 2024: Lei de Cota de Tela retoma os planos propostos na Medida Provisória de 2001

Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios

WhatsApp